Calou-se a voz de Tomás Balduíno, por Pedro Tierra

Calou-se a voz de Tomás Balduíno,

nessa noite de 2 de maio.

Uma voz que nunca quis ser sozinha,

sabia, desde os anos de chumbo:

uma voz solitária não suspende a manhã.

Quiz ser uma voz entre vozes,

ergueu sua voz dentro do vasto coro dos oprimidos:

os índios, os posseiros, os lavradores,

os retirantes da seca e da cerca

e os que se levantam contra elas,

as mulheres, os negros, os migrantes, os peregrinos

para forçar claridades, para ensinar amanhecer.

Tomás é palavra.

A palavra que banha como bálsamo.

A palavra que fustiga.

Incendeia.

A palavra que perdoa

mas aponta – sempre – o caminho da Justiça.

E o que somos na vida?

Somos os ossos das palavras

que povoam o caminho de pedra ou flores

que sangram os pés dos nossos filhos.

Tomás é sertão.

O sertão e suas armadilhas.

O sertão e suas infinitas contradições.

Tomás é sertão

onde se dobram os ventos de Goiás e Minas,

onde nascem águas

nessa infinita geografia

que alimenta nossas esperanças.

Calou-se a voz de Tomás Balduíno.

Permanecerá sua palavra.

Tomás é sertão:

gesto de fé nessa gente que não se dobra.

Manhã de 3 de maio, como um quadro de Goya.

 

Em 04/05/2014